terça-feira, 29 de abril de 2014

Maravilhas do Douro # Galafura

 
São Leonardo de Galafura é um dos mais enigmáticos miradouros da região douriense. Daqui podemos admirar o vale do Douro em todo o seu esplendor. A beleza do local tem encantado as pessoas e inspirado os poetas.
Miguel Torga nascido numa região vizinha, na aldeia de São Martinho de Anta ( Vila Real) , era contemplador assíduo das água do  douro que correm lentamente lá no fundo.
 Em 8 de Abril de 1977, Torga inspirado pelo Douro, faz-lhe uma das mais belas homenagens… um poema, que hoje se encontra eternizado num azulejo logo que se chega ao miradouro, e que diz:
S. Leonardo de Galafura, 8 de Abril de 1977
 
«O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor pintou ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis de visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta».

Miguel Torga in “Diário XII”


A sua admiração por esta fantástica paisagem está também expressa num poema, colocada sobre um azulejo na parte de trás de uma pequena capela, dedicada a S.  Leonardo, que compõe o miradouro.

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em drecção ao cais divino.
 
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
 
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
 

 
Acrescente-se a este magnifica contexto que conjuga a paisagem e as palavras, a lenda. Que a sabedoria popular sempre cria, na presença  de sítios encantadores tenta que sejam encantados.
Reza a lenda que no monte de S. Leonardo existe uma gruta guardada por dois horrendos dragões, onde vive D. Mirra, uma bela moura encantada, que espera desesperadamente por um jovem que resolva enfrentar os dragões, pois só assim se quebrará o encanto, e surgirá um luxuoso palácio subterrâneo.
Venha com a TUREL Viagens descobrir os encantos do Douro.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

O Farricoco da Semana Santa de Braga

O farricoco era, no passado, uma forma dos fiéis cristãos bracarenses se penitenciarem dos seus pecados, propondo-se caminhar descalços e incógnitos nas procissões que percorriam a cidade.
 O confessor dava a penitência durante a confissão e os fiéis cumpriam à risca tal preceito.
 Ajudavam a iluminar as ruas durante os préstitos e a chamar os fiéis às celebrações com o auxílio das matracas, dado que os tilintar dos sinos era proibido durante este tempo especial. O som estridente das matracas, com o seu ruge-ruge era também sinal de penitência...
Entretanto, os farricocos foram-se aproveitando do seu anonimato para denunciar publicamente os pecados daqueles que não faziam penitência. O ambiente era, por isso, temeroso, e algumas pessoas recusavam vir às janelas, não fosse cair-lhes em cima alguma acusação.
Hoje, as procissões já quase não servem para penitências, mas o farricoco mantém-se como figurante primordial.
 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Semana Santa em Braga

Esta festa religiosa abarca o período que vai da Quarta-Feira de Cinzas até ao Dia de Páscoa.
As solenidades da semana santa, em Braga, são, para além de uma manifestação religiosa, um fenómeno de turismo religioso.
A celebração completa da semana santa integra um conjunto de actos religiosos, celebrações eucarísticas, a imposição das cinzas, o lausperene quaresmal, a Via Sacra, a procissão da penitência, a procissão dos passos, a procissão dos fogaréus, a procissão teofórica do enterro, a procissão da burrinha, a vigília pascal, concertos, exposições que constituem um dos cartazes turísticos mais importantes de Portugal.
Com tradições que remontam aos primórdios do século, a Semana Santa em Braga é o expoente máximo das solenidades pascais do país e do norte da Península Ibérica.
 Durante uma semana, a cidade de Braga acolhe milhares de peregrinos oriundos de todo o país e da vizinha Galiza, para participar numa das manifestações que constitui um dos mais notáveis cartazes do turismo religioso.
Os archotes, as velas e os milhares de pessoas que se dispõem ao longo das ruas para ver passar as procissões, em especial as do Senhor Ecce-Homo e do Enterro do Senhor, configuram um quadro ímpar das festividades e transmitem uma tradição enraizado num ritual dominado pelo conjunto de procissões nocturnas envoltas numa forte intensidade dramática.
A Procissão do Senhor Ecce-Homo, tem lugar na noite de Quinta-Feira Santa. Com origens na visita que outrora se efectuava às sete igrejas, inspirada nas Sete Estações Romanas, que, como reza o Compromisso Cerimonial da Santa Casa da Misericórdia de Braga, reflectia «a penitência aos fiéis cristãos que reconheceram os seus pecados».
No dia seguinte, na Sexta-Feira Santa, é a vez de se realizar a procissão do Enterro do Senhor. Este cortejo religioso é o mais solene de todos os que na Semana Santa se organizam. Os mesários e irmãos da Misericórdia e Santa Cruz, encapuzados, as varas a rasto, os Reverendo Cónegos com os mantos e varas arrastados pelos lajedos, os figurados, também arrastando as cruzes, como os pendões, bandeiras das congregações, juizes com varas, provocam como que um gemido de consternação. De longe a longe, este sussurro é quebrado pelo som entoado por uma personagem que segue o Esquife do Senhor: (Ai! Ai! Senhor Salvador Nosso!).
O rugir das matracas dos faricocos, o bater das varas dos irmãos da misericórdia que se ouvem na procissão da Quirita-Feira Santa, dão lugar a um silêncio avassalador na procissão do Enterro do Senhor. O cortejo religioso sai da Sé Catedral, a onde regressa depois de percorrer as principais artérias do centro da cidade.
A Procissão da Burrinha ou Procissão das Dores representa a «fuga» da Sagrada Família para o Egipto, com Nossa Senhora sentada numa burrinha e o menino ao colo.
 
 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Pio Latrocínio

Uma lenda prodigiosa com origem em escritos de Atanásio de Saragoça coloca Braga em primeiro lugar na rota das pregações de S. Tiago aos povos das Espanhas e atribui ao apóstolo a ressuscitação do “primeiro” bispo bracarense, S. Pedro de Rates.
Apesar de estar pouco difundida pelo mundo católico, a lenda do milagre de S. Tiago em Braga retira peso à de Compostela, por ser a história surpreendente da única ressuscitação do apóstolo durante a sua lendária digressão pelas Espanhas. Faz parte de “uns fragmentos” de obras atribuídas a Santo Atanásio, “primeiro bispo” de Saragoça e “discípulo” de Santiago.
 Esses fragmentos foram descobertos em livrarias monásticas da Sardenha e de Aragão, há quase quatro séculos, pelo padre jesuíta Bartolomeu André de Olivença, lente de Teologia no Colégio de Alcalá, por informação em 1635 do arcebispo de Braga, D. Rodrigo da Cunha.
 O fabuloso relato só não catapultou Braga para centro das peregrinações europeias em torno do apóstolo porque, ao longo dos tempos, a igreja compostelana procurou ofuscá-lo. Apesar de ter surgido 900 anos após a fundação de Bracara Augusta, Compostela acabou por trocar as voltas a Braga ao disputar-lhe a primazia já no século XII. Em 1102, o bispo compostelano Diogo Gelmires levou de Braga, pela calada da noite, qual salteador, as relíquias do bispo bracarense S. Frutuoso e dos mártires S. Silvestre, S. Cucufate e Santa Susana.
tal atitude não punha problemas morais e era bastante frequente entre monges, sacerdotes, e como nesta caso comprova Bispos, durante a idade média. A justificação de D. Diego Gelmires para o seu ato, era que desta forma as relíquias recebiam a " devida adoração" em Compostela.
No dia 1 de Abril de 1103, S. Geraldo, arcebispo de Braga, estava em Roma para se queixar desse acto extorsivo de Compostela, regressando de lá com poderes eclesiásticos acrescidos sobre as Espanhas. Porém, o “roubo” de Diego Gelmires ou “Pio Latrocínio”, como lhe chamou eufemisticamente a Igreja compostelana, só foi reparado oito séculos mais tarde: as relíquias de S. Frutuoso foram devolvidas a Braga em 1966 e as dos mártires referidos em 1993.
Nos nossos dias as relíquias de santos já não são motivo principal de visita, mas as igrejas e catedrais que as albergam, bem como os caminhos de peregrinação, merecem sem sombra de dúvida uma visita pelos monumentos e pela história. Faça-a connosco www.turelviagens.com