quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Pio Latrocínio

Uma lenda prodigiosa com origem em escritos de Atanásio de Saragoça coloca Braga em primeiro lugar na rota das pregações de S. Tiago aos povos das Espanhas e atribui ao apóstolo a ressuscitação do “primeiro” bispo bracarense, S. Pedro de Rates.
Apesar de estar pouco difundida pelo mundo católico, a lenda do milagre de S. Tiago em Braga retira peso à de Compostela, por ser a história surpreendente da única ressuscitação do apóstolo durante a sua lendária digressão pelas Espanhas. Faz parte de “uns fragmentos” de obras atribuídas a Santo Atanásio, “primeiro bispo” de Saragoça e “discípulo” de Santiago.
 Esses fragmentos foram descobertos em livrarias monásticas da Sardenha e de Aragão, há quase quatro séculos, pelo padre jesuíta Bartolomeu André de Olivença, lente de Teologia no Colégio de Alcalá, por informação em 1635 do arcebispo de Braga, D. Rodrigo da Cunha.
 O fabuloso relato só não catapultou Braga para centro das peregrinações europeias em torno do apóstolo porque, ao longo dos tempos, a igreja compostelana procurou ofuscá-lo. Apesar de ter surgido 900 anos após a fundação de Bracara Augusta, Compostela acabou por trocar as voltas a Braga ao disputar-lhe a primazia já no século XII. Em 1102, o bispo compostelano Diogo Gelmires levou de Braga, pela calada da noite, qual salteador, as relíquias do bispo bracarense S. Frutuoso e dos mártires S. Silvestre, S. Cucufate e Santa Susana.
tal atitude não punha problemas morais e era bastante frequente entre monges, sacerdotes, e como nesta caso comprova Bispos, durante a idade média. A justificação de D. Diego Gelmires para o seu ato, era que desta forma as relíquias recebiam a " devida adoração" em Compostela.
No dia 1 de Abril de 1103, S. Geraldo, arcebispo de Braga, estava em Roma para se queixar desse acto extorsivo de Compostela, regressando de lá com poderes eclesiásticos acrescidos sobre as Espanhas. Porém, o “roubo” de Diego Gelmires ou “Pio Latrocínio”, como lhe chamou eufemisticamente a Igreja compostelana, só foi reparado oito séculos mais tarde: as relíquias de S. Frutuoso foram devolvidas a Braga em 1966 e as dos mártires referidos em 1993.
Nos nossos dias as relíquias de santos já não são motivo principal de visita, mas as igrejas e catedrais que as albergam, bem como os caminhos de peregrinação, merecem sem sombra de dúvida uma visita pelos monumentos e pela história. Faça-a connosco www.turelviagens.com

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