quinta-feira, 20 de março de 2014

Na Senda de S. Bento # Mosteiro de Santo André de Rendufe

  A história do mosteiro beneditino de Rendufe remonta à época do Conde D. Henrique e, muito embora se desconheça a data da sua fundação, eventualmente devida a Egas Pais de Penegate, é possível que tenha ocorrido pouco antes de 1090, pois em Dezembro desse ano o seu abade figura num julgamento (MATTOSO, 1971, p. 13). De acordo com uma inscrição existente no pavimento, junto ao arco do cruzeiro, a igreja já se encontrava concluída em 1151 (SOUSA, 1979, p. 29). Durante a Idade Média foi um mosteiro bastante rico e com um amplo domínio mas, à semelhança do que aconteceu em boa parte das casas conventuais do nosso país, experimentou um forte abalo em consequência da gestão ruinosa dos abades comendatários e, anteriormente, das questões levantadas entre o mosteiro, o arcebispo e a família patronal dos Vasconcelos (SOUSA, 1979, p. 30). Essas questões conduziram mesmo à sua extinção e pronta restauração, em 1401.

 A grande reforma da primitiva igreja deveu-se à iniciativa (ao que se pensa forçada pelo Arcebispo) do último comendatário - D. Henrique de Sousa (descendente do cardeal Alpedrinha), que em 1551 reedificou o mosteiro. O templo passou, então, a possuir três naves com capelas laterais. Esta campanha de obras permitiu que a igreja se mantivesse até ao século XVIII, não se integrando no conjunto de mosteiros remodelados depois da criação da Congregação beneditina, em 1567.

 Os reflexos do final do regime comendatário fizeram-se sentir ao longo do século XVII, através de várias obras que denunciam um desejo de remodelação e atualização estética, consumado na centúria seguinte. Assim, poderíamos citar, entre as mais significativas, a fachada da portaria, que ostenta a data de 1638, e que segue modelos quinhentistas divulgados no tratado de Sebastião Serlio (SMITH, 1969, pp. 9 e 10). O texto da nave foi forrado por duas vezes, e na sacristia registam-se móveis novos, executados por Agostinho Marques, de Braga, em 1697 (IDEM, p. 5).
É, no entanto, durante o primeiro quartel do século XVIII que se assiste a uma constante atividade construtiva, responsável pela reforma integral da igreja, e demais dependências conventuais, grande parte das quais, infelizmente, desaparecida no incêndio de 1877. A existência de registos periódicos, os chamados Estados de Tibães, permite acompanhar as obras, triénio a triénio. Assim, entre 1716 e 1719 levantou-se a nova igreja, de planta em cruz latina, com nave única coberta por abóbada de berço e dois altares laterais, transepto, altares colaterais e capela-mor de grandes dimensões, num traçado que obedece à generalidade das plantas beneditinas da época (IDEM, p. 12). A fachada, por sua vez, afasta-se dos modelos empregues anteriormente, ao apresentar um portal central, a que se sobrepõem três nichos com as imagens de Santo António, São Bento e Santa Escolástica (as atuais são de época posterior), e três janelas ovais. No interior, o arco da tribuna e a nova abóbada da capela-mor são de 1725-28. A talha foi executada entre 1719 e 1725, e dourada entre 1725 e 1728, continuando depois, em 1752-1755. É de estilo nacional, filiando-se o retábulo da capela-mor no de São Bento da Vitória, no Porto, razão pela qual Roberth Smith atribui a sua autoria ao do entalhador da igreja portuense, Gabriel Rodrigues. Situação semelhante verifica-se ao nível do cadeiral do coro (1722), embora o de Rendufe apresente telas e não relevos. A talha das bancadas da capela-mor pode ser cotejada com a de Tibães (atr. A Frei José António Vilaça) que, tal como a das janelas, é já rococó (IDEM, p. 27).
Por sua vez, a biblioteca foi edificada no triénio de 1716-19, tal como o claustro, do qual apenas subsistem as ruínas com arcadas de capitéis toscanos. O novo dormitório remonta a 1728-31. Uma das últimas obras, mas de grande significado, por obedecer a novas directivas que visavam retirar o Santíssimo Sacramento da capela-mor, foi a edificação da capela do Sacramento, em 1777-80, numa linguagem pombalina. (RC)
 

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