A história do mosteiro beneditino
de Rendufe remonta à época do Conde D. Henrique e, muito embora se desconheça a
data da sua fundação, eventualmente devida a Egas Pais de Penegate, é possível
que tenha ocorrido pouco antes de 1090, pois em Dezembro desse ano o seu abade
figura num julgamento (MATTOSO, 1971, p. 13). De acordo com uma inscrição
existente no pavimento, junto ao arco do cruzeiro, a igreja já se encontrava
concluída em 1151 (SOUSA, 1979, p. 29). Durante a Idade Média foi um mosteiro
bastante rico e com um amplo domínio mas, à semelhança do que aconteceu em boa
parte das casas conventuais do nosso país, experimentou um forte abalo em
consequência da gestão ruinosa dos abades comendatários e, anteriormente, das
questões levantadas entre o mosteiro, o arcebispo e a família patronal dos
Vasconcelos (SOUSA, 1979, p. 30). Essas questões conduziram mesmo à sua
extinção e pronta restauração, em 1401.
A grande reforma da primitiva igreja deveu-se
à iniciativa (ao que se pensa forçada pelo Arcebispo) do último comendatário -
D. Henrique de Sousa (descendente do cardeal Alpedrinha), que em 1551
reedificou o mosteiro. O templo passou, então, a possuir três naves com capelas
laterais. Esta campanha de obras permitiu que a igreja se mantivesse até ao
século XVIII, não se integrando no conjunto de mosteiros remodelados depois da
criação da Congregação beneditina, em 1567.
Os reflexos do final do regime comendatário
fizeram-se sentir ao longo do século XVII, através de várias obras que
denunciam um desejo de remodelação e atualização estética, consumado na
centúria seguinte. Assim, poderíamos citar, entre as mais significativas, a
fachada da portaria, que ostenta a data de 1638, e que segue modelos
quinhentistas divulgados no tratado de Sebastião Serlio (SMITH, 1969, pp. 9 e
10). O texto da nave foi forrado por duas vezes, e na sacristia registam-se
móveis novos, executados por Agostinho Marques, de Braga, em 1697 (IDEM, p. 5).
É, no entanto, durante o primeiro
quartel do século XVIII que se assiste a uma constante atividade construtiva,
responsável pela reforma integral da igreja, e demais dependências conventuais,
grande parte das quais, infelizmente, desaparecida no incêndio de 1877. A
existência de registos periódicos, os chamados Estados de Tibães, permite
acompanhar as obras, triénio a triénio. Assim, entre 1716 e 1719 levantou-se a
nova igreja, de planta em cruz latina, com nave única coberta por abóbada de
berço e dois altares laterais, transepto, altares colaterais e capela-mor de
grandes dimensões, num traçado que obedece à generalidade das plantas
beneditinas da época (IDEM, p. 12). A fachada, por sua vez, afasta-se dos
modelos empregues anteriormente, ao apresentar um portal central, a que se
sobrepõem três nichos com as imagens de Santo António, São Bento e Santa
Escolástica (as atuais são de época posterior), e três janelas ovais. No
interior, o arco da tribuna e a nova abóbada da capela-mor são de 1725-28. A
talha foi executada entre 1719 e 1725, e dourada entre 1725 e 1728, continuando
depois, em 1752-1755. É de estilo nacional, filiando-se o retábulo da
capela-mor no de São Bento da Vitória, no Porto, razão pela qual Roberth Smith
atribui a sua autoria ao do entalhador da igreja portuense, Gabriel Rodrigues.
Situação semelhante verifica-se ao nível do cadeiral do coro (1722), embora o
de Rendufe apresente telas e não relevos. A talha das bancadas da capela-mor
pode ser cotejada com a de Tibães (atr. A Frei José António Vilaça) que, tal
como a das janelas, é já rococó (IDEM, p. 27).
Por sua vez, a biblioteca foi
edificada no triénio de 1716-19, tal como o claustro, do qual apenas subsistem
as ruínas com arcadas de capitéis toscanos. O novo dormitório remonta a
1728-31. Uma das últimas obras, mas de grande significado, por obedecer a novas
directivas que visavam retirar o Santíssimo Sacramento da capela-mor, foi a
edificação da capela do Sacramento, em 1777-80, numa linguagem pombalina. (RC)
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